Construa-se menos ignorante. Construa-se mais respeitável. Construa-se gente. Seja humano. Seja quem se é. - Walter Junior.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Ele, Ele mesmo e sua Vida


Não se pode dizer que ele "vivia", existia sim, mas viver exige uma abordagem maior, que ele não compreendia, ou compreendia sem tentar abordar. Existia, nos seus dias sofridos, prisioneiro de seus dias, existindo como os outros queriam que existice. Existia desta maneira porque não conseguia viver da sua. Seu querer lhe pedia liberdade, lhe pedia o amor que não tinha, o sonho que não realizou, as funções que não exercia. Pedia-lhe, com favor, até os olhos que não brilhavam como queria. Seu "eu" o pedia. Mas o mundo esperava algo dele. Mas aqueles lá fora queriam alguém que atendesse á suas expectativas e ele estava fora. Estava fora. Livrou-se de si mesmo, acolheu um desconhecido dentro de si, e apresentava-se usando seu codinome, calando sua voz que queria sair, cerrando seus olhos que tentavam ver o proibido, o esquecido para os outros e desejado por ele mesmo. Viveu mais dias, todos os dias, sendo quem não era, renegando a si mesmo porque precisava ser aceito. Ele mesmo não bastava. Não bastava para si. Precisava do mundo e das pessoas que estavam nele, que desfilavam na passarela que o atraia, mas que também o traia, porque era proibido desfilar com seu próprio modelito. Sendo assim ele se matou, e renasceu numa vida planejada, mas apesar de matar a si mesmo, tinha aquilo que "desejava".

"Quanto a ele mesmo, fazia obscuramente parte das raizes negras e suaves do mundo. E alimentava anonimamente a vida. Estava bom assim. Assim ele o quisera e escolhera."

Trecho retirado de "Amor" de Clarice Lispector.

Sem comentários:

Enviar um comentário