“pensando nas camas
usadas e reutilizadas
para trepar
para morrer.
nesta terra
alguns de nós trepam mais do que
nós morremos
mas a maioria de nós morre
melhor do que
trepamos,
e morremos
bocado a bocado também –
em parques
tomando sorvete, ou
nos iglus
da demência,
ou em esteiras de palha
ou sobre amores
desembarcados
ou
ou.
o sistema de esgoto humano
é a maior invenção do
mundo.
e você me inventou
e eu inventei você
e é por isso que nós não
damos
mais certo
nesta cama.
você era a maior invenção
do mundo
até que resolveu
me mandar descarga
abaixo.
agora é a sua vez
de esperar que alguém aperte
o botão.
alguém fará isso
com você,
puta,
e se eles não fizerem
você fará –
misturada ao seu próprio
adeus
verde ou amarelo ou branco
ou azul
ou lavanda.”
"Sigo esvaziando garrafas à espera dos passos. posso senti-la no ar, posso senti-la na ponta dos dedos, posso ver calçadas construídas para seus pés caminharem, posso ver travesseiros para sua cabeça, posso sentir a expectativa da minha risada, posso vê-la acariciando um gato, posso vê-la dormir, posso ver seus chinelos no chão. pequenas gotas de você pingando na poeira. sei que alguma noite em algum quarto logo meus dedos abrirão caminho através de cabelos limpos e macios. quando me penso morto penso em fazer amor com você quando não estou por perto. é tudo tão confortável — esse fazer amor, esse dormir juntos, a suave delicadeza… outra cama outra mulher mais cortinas, outro banheiro outra cozinha outros olhos outro cabelo outros pés e dedos. essas orelhas esses braços esses cotovelos esses olhos olhando, o afeto e a carência me sustentaram. sou um bom cozinheiro, um bom ouvinte, mas nunca aprendi a dançar. me sinto bem melhor agora. dediquei-me ao sapateado e as palavras difíceis que sempre tive medo de dizer podem agora ser ditas: eu te amo como um homem ama uma mulher que jamais tocou, para quem apenas escreveu, de quem manteve algumas fotografias. eu poderia ter te amado mais se eu tivesse sentado numa pequena sala enrolando um cigarro e ouvindo você mijar no banheiro. mando a cerveja goela abaixo, peço uma bebida forte rápido para adquirir a garra e o amor de continuar. eu sairei e esperarei por você."
"Assim, na América, quando o sol se põe, eu me sento no velho e arruinado cais do rio olhando os longos, longos céus acima de Nova Jersey, e consigo sentir toda aquela terra crua e rude se derramando numa única, inacreditável e elevada vastidão, até a costa oeste, e a estrada seguindo em frente, todas as pessoas sonhando naquela imensidão, e em Iowa eu sei que agora as crianças devem estar chorando na terra onde deixam as crianças chorar, e você não sabe que Deus é a Ursa Maior? A estrela do entardecer deve estar morrendo e irradiando sua pálida cintilância sobre a pradaria, reluzindo pela última vez antes da chegada da noite completa, que abençoa a terra, escurece todos os rios, recobre os picos e oculta a última praia, e ninguém, ninguém sabe o que vai acontecer a qualquer pessoa, além dos desamparados andrajos da velhice. Penso então em Dean Moriarty, penso no velho Dean Moriarty, o pai que jamais encontramos, penso em Dean Moriarty."