Construa-se menos ignorante. Construa-se mais respeitável. Construa-se gente. Seja humano. Seja quem se é. - Walter Junior.

domingo, 30 de outubro de 2011

Vinicus de Moraes - Ausência



Vinicius de Moraes
Ausência

"Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne como uma nódoa do passado.
Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos portos silenciosos
Mas eu te possuirei mais que ninguém porque poderei partir
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada."

Vinicius de Moraes - "Marinha"



Vinicius de Moraes
Marinha


Na praia de coisas brancas
Abrem-se às ondas cativas
Conchas brancas, coxas brancas
      Águas-vivas.


Aos mergulhares do bando
Afloram perspectivas
Redondas, se aglutinando
      Volitivas.


E as ondas de pontas roxas
Vão e vêm, verdes e esquivas
Vagabundas, como frouxas
      Entre vivas!

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Lisbon Revisited

Álvaro de Campos
Lisbon Revisited
(l923)

NÃO! Não quero nada. 
Já disse que não quero nada.
Não me venham com conclusões! 
A única conclusão é morrer.

Não me tragam estéticas! 
Não me falem em moral!

Tirem-me daqui a metafísica! 
Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas 
Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) — 
Das ciências, das artes, da civilização moderna!

Que mal fiz eu aos deuses todos?

Se têm a verdade, guardem-na!

Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica. 
Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo. 
Com todo o direito a sê-lo, ouviram?

Não me macem, por amor de Deus!

Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável? 
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa? 
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade. 
Assim, como sou, tenham paciência! 
Vão para o diabo sem mim, 
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo! 
Para que havemos de ir juntos?

Não me peguem no braço! 
Não gosto que me peguem no braço.  Quero ser sozinho.  
Já disse que sou sozinho! 
Ah, que maçada quererem que eu seja da companhia!

Ó céu azul — o mesmo da minha infância — 
Eterna verdade vazia e perfeita!  
Ó macio Tejo ancestral e mudo, 
Pequena verdade onde o céu se reflete! 
Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje! 
Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta.

Deixem-me em paz!  Não tardo, que eu nunca tardo... 
E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero estar sozinho!

Pseudo de Mim Mesma.



eu sou o Eu que sou quando meu EU está ocupado
Fazendo coisas.
Meu Eu está dentro de mim
fazendo poesias de amor,
se encharcando de whisky
numa praia do Caribe.
Meu Eu está de férias.
O que está aqui é só pseudo,
quebra-galho.
Sou pseudo fraco, apaixonado
e indeciso.
Meu Eu é mais sagaz, atemporal
e invensível.
Sou pseudo porque meu Eu não quer sair!
Não quer brincar na rua.
Prefere o aconchego da poltrona,
o sabor dos cigarros
o chá da tarde e os livros de fantasia.
Talvez esteja esperando o palco certo para surgir.
Algum oceano inabalável ou o Fado acima dos céus.
Sou pseudo porque meu Eu é abstrato, é pesado
E esta deslocado no contexto real.
Sou pseudo de mim mesma
Porque Sou complexa demais para mim.


segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Conversas.



Mas mesmo assim
No silencio cru da noite
Quando tudo são saudades
Quando só há os sonhos
Sem sombra de realidade
Ainda posso sentir seu perfume
Entrando pelas janelas
Balançando as cortinas
E fazendo a música tocar...

Pequenas palavras
Sutis e doces palavras
Que mesmo na solidão,
Numa taça solitária de vinho,
Me fazem sentir o teu calor.


Conversas, conversas
Interessantes, distraídas
Mais decifrando teus olhos
Do que ouvindo tua voz
Mais procurando teus lábios
Do que ouvindo a conversa.
Conversas, conversas
Interessantes, distraídas
Pretextos.
Procurando seus lábios.





Dedicado à R.C. 

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Chá das Quatro.



São quatro horas e nos sentamos
O sol se aquece para descer
Coça a bunda e ajeita a gravata
O dia esta quase terminando.
São quase quatro horas e
O brasil parou pra ver
que escrevi o nome da pátria
com b minusculo 
e que não cumpro
com meus deveres de cidadã
há três dias, cinco horas e
os últimos segundos.
Fui interceptada por um poeta
                                                      vagabundo.]
que escreve coisas tortas
num bloco de notas
e trouxe a chaleira e xícaras lascadas.
Preparamos o chá e os biscoitos
E me dizem que tomar chá 
é semelhante ao ato de fumar.
Não saco essa
Mas a Rainha não esconde os seus Marlboros
E o pianista toca o rock punk
Em nossos ouvidos pomposos
Charles e Kate, educados demais
para fazer oral à mesa e guardam pra depois.
Nos servimos de Earl Grey e 
relembramos as crises do parlamento
E a frota de aviões da marinha.
   Um momento........
a maquina de escrever estava tentando me devorar
E a serra elétrica estava falando comigo
Essa droga toda que escrevo são
Influencias de amigos
Que criam contos ao estilo
"Almoço Nu"
Quando estão chapados de maconha.
Estou contando histórias...
Romances inacabados
Aposto que agora faria um verso certo
Mas vou saindo com ele errado.
Vamos tomar um chá e fumar uns cigarros.
O ato te tomar chá é semelhante ao de fumar.



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Silvério esse é pra você denovo, porque só você me faz pensar nessa droga toda. uhauahuhauahua

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Escola de Trigonometria


Alta madrugada e estou bêbada de café
Me encontro 
Perdida entre números de trigonometria
E letras gregas que não me dizem coisa alguma.
Gosto das canções que ouço
Sobre pássaros falantes
E num segundo epifanico
me componho em
sonetos de amor.
Mas meu pobre amor hoje esteve doente
Não soube de que
Talvez bateu a testa 
Com uma força de London
(sem referencias por favor)
Mas estou tremendo e
O celular não toca.
 Esta frio demais para adormecer sob a lua
Como um velho hippie sujo
Acreditando em tudo
Em revisão antes da prova
Em recuperar o tempo perdido
Perdido pensando,
Pensando no que fazer
Para não perder o tempo.
Ai ai, mas do que fiz não me lamento
Não tenho dom pra vitima
Só para donzela encantada
De cabelos curtos e tatuada
Numa escola de bruxaria
Desvendando a trigonometria.

domingo, 9 de outubro de 2011

....Ao som do Mar.


As ondas do mar me acalmam
Sua doce melodia
Em minh'alma
Me deixa em paz.
O mar me ama
Como se eu fosse das vadias
A mais bela na cama.
Me olha.
E me trás pra mim.
Num turbilhão de espumas
E caricias pesadas.
No mar me encontro
Uma ilha deserta transbordando de areias
Tão carregada de dons e sujeiras
No mar eu me vejo.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Não Faço Idéia do que é Isto.


Sou um cretino viciado em poesias de amor
Cheirando paginas de livros velhos
Pelo prazer do aroma da poeira
Fervilhando no meus miolos
Soltos e frouxos como fios de macarrão.
Injetando tinta vermelha,
Direto no coração
e lendo livros de magia,
de fantasia e histórias de terror.
Talvez eu não passe de um horror.
Marinheiro de primeira viagem
Sem a menor criatividade
Para chegar aos pés dos grandes.
E meus ídolos fazem sonetos de motéis
Vadias velhas e damas gordas
Quem sabe eu não esteja louca
Mas ler e assistir Naked Lunck
Me deixou em xeque.
À ver navios e compor assobios
Na quinta de Beethoven
Sem saber escrever direito.
A maquina de escrever virou um inseto..........!!
Absurdo.
Insetos não podem escrever
Jamais teriam a demência que tenho
E falariam sobre verões e invernos
Vida calma e pés gigantes.
Sou um pouco mais delirante.
Batendo os dedos nas malditas teclas
Como se fossem gatilhos contra os opositores.
Suando e ficando afoita
Com cada nova frase de psicodelia
Como se entendesse algo sobre alegria
Se não whisky e cigarros caros.
Bem, acabou o gás.
E saio como cheguei.
As mãos nas orelhas e olhos no nariz.
Sem a minima idéia do que fiz
Sabendo apenas que em cada linha
de pura falta de sentido e um tanto de demencia
Estão coisas dos meus neurônios
E talvez um pouco da minha essência.


Pepino no Deserto.


Pepinos no Deserto
Foi o que ela trouxe na hora do jantar
Perguntei se estava louca
Mas ela me mostrou seu juízo
Cozido na panela de pressão.
Que situação, logo pensei
E é nessa pilha de areia mijada
Que hoje faremos nossa refeição
A tv ligada num programa de auditório
Mamãe disse que é feio ler na mesa.
Mas estou sentindo falta da carne
Mal passada e vermelha,
com muito molho e um crachá
Nele muito expresso:
Dani-se o resto, eu gosto de carne!
Bobagem é mesmo o vegetarianismo.
Se preocupam com os bois
Mas os homens estão morrendo.
O homem está matando o Homem
e isso é assunto para a terceira pagina.
Por que uma vaca vale mais que eu?
Mas perdi a maldita aula sobre Froid.
Comendo grama e fumando maconha
Não toque canções hippies para mim.
Quero um cadaver no meu prato
Frio, roxo e duro.
Mamãe nao me diga o que é absurdo
Você jamais esteve na Sixth and Los Angeles.
Pepinos no deserto é que são absurdos
Como um grito para o mundo
De um desesperado, calvo e alcoólatra
Na casa da mãe observando lampadas no teto.
Mas o resto é resto e ele tem 3 pratas no bolso
Um figado estragado e tres ou quatro poesias.
Vou fechar os olhos e fingir que isto é uma iguaria.
Pepinos  no deserto.
Dani-se se estiver errado.
O que é certo é certo.




Dedica à Silvério Bittencourt e seu aconchegante blog: "Pepino no Deserto" 
ps: espero que saiba, a foto é de um pepino do mar. rsrsrs

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Canção - Allen Ginsberg



O peso do mundo
              é o amor.
Sob o fardo
               da solidão,
sob o fardo
                   da insatisfação


       o peso
o peso que carregamos
                 é o amor.


Quem poderia negá-lo?
          Em sonhos
nos toca
      o corpo,
em pensamentos
        constrói
um milagre,
               na imaginação
aflige-se
               até tornar-se
humano -


sai para fora do coração
                  ardendo de pureza -


pois o fardo da vida
          é o amor,


mas nós carregamos o peso
                      cansados
e assim temos que descansar
nos braços do amor
                  finalmente
temos que descansar nos braços
           do amor.


Nenhum descanso
        sem amor,
nenhum sono
        sem sonhos
de amor -
           quer esteja eu louco ou frio,
obcecado por anjos
           ou por máquinas,
o último desejo
          é o amor
- não pode ser amargo
         não pode ser negado
não pode ser contigo
           quando negado:


o peso é demasiado
          - deve dar-se
sem nada de volta
         assim como o pensamento
é dado
         na solidão
em toda a excelência
         do seu excesso.


Os corpos quentes
                 brilham juntos
na escuridão,
                a mão se move
para o centro
             da carne,
        a pele treme
na felicidade
         e a alma sobe
         feliz até o olho -


sim, sim,
           é isso que
eu queria,
          eu sempre quis,
eu sempre quis
         voltar
ao corpo
         em que nasci.


Mestre Murilo Mendes










Mestre Murilo Mendes tua poesia são


os sapatos de abóboras que eu calço


nestes dias de verão.


negócio de bruxas.


o sol caia na marmita do


adolescente da lavanderia.


você veria isto com seu olhar silvestre.


um murro bem dado no vitral


que eu mais adoro.



Roberto Piva.

domingo, 2 de outubro de 2011

Longe dos meus passos.



As vezes pareço viajar
os olhos se perdem numa realidade
que não existe.
Sou capitã de navios de guerra
As ondas vão e levam e
o vento farfalha nas velas.
A noite esta escura e quente
                    a  lua brilha como o sorriso do gato    [Cheshire]
as estrelas indicam o Norte
e sempre em frente, encontraremos
a linha do Equador e, logo após
o abismo sem fim, onde
todos naufragam e
ressuscitam nos desertos do Oriente.
As vezes pareço viajar.
E as dançarinas trazem véu ao rosto
somente olhos de âmbar
que parecem hipnotizar.
Vozes chegam ao longe
as ilhas vão passando rápido,
regressam.
A noite se vai. Vozes retumbantes
de marinheiros que ficam para trás.
As luzes se acendem. Olhos voltam
 ao foco. Realidade.
E de volta a aula.


                                        30/09/2011