Construa-se menos ignorante. Construa-se mais respeitável. Construa-se gente. Seja humano. Seja quem se é. - Walter Junior.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

A Grande Família



A minha familia era meio pertubada.
Nos finais de semana quando estavam todos reunidos, tinha que ver, que zona!
Criança correndo pra todo lado, brinquedos espalhados na escada, gente tropeçando, rindo alto, xingando, gritando, cada um berrando mais que o outro pra se fazer ouvir.
Em um comodo da casa zoava o forróbodó. No quarto da solteirona cantava alto o louvor. Na sala Galvão narrando o jogo aos berros e no portão o carro dos jovens ligado no rock n' roll que tremia as janelas.
Que zona. Que bagunça!
Na hora do almoço, Deus, que alvoroço!
Era milagre ter tanta comida para tanta gente, sem contar a visita que ninguém sabia d'onde aparecia.
Era aquele fuá todo santo dia até a hora de dormir e na manhã seguinte recomeçava como se nunca tivesse parado. Os vizinhos reclamavam, e como reclamavam, mas também adoravam, não perdiam uma churrascada naquela casa barulhenta.
Eramos clássicos, já havia acontecido de tudo naquela casa: já se pegou rapaz na cama com moça sabe-se lá de onde veio. Já se jogou malas na rua expulsando os preguiçosos, já se bateu boca no portão na frente na vizinhança toda, ja se chamou policia pra casal que se estapeou, ja veio ambulância pra criança fraturada, já se brigou com vizinho por "n's" motivos, eita láia, é tanta coisa que nem dá pra lembrar.
E agora, sentada aqui na frente do pc, sem ninguém falando alto ao lado, sem criança querendo tc, sem barulho algum, nesse silêncio esmagador, nossa, que saudade! Que dor!
Sim, dor. Porque agora que todos estão longe, em outra casa, em outro estado, em outro lugar, as lembranças daqueles dias, daquele cortiço, quase podem em cortar. Sinto lágrimas derramando e o almoço solitário, calmo, silencioso, é quase gelado, mesmo com a fumaça do fogão subindo nos meus olhos.
Quando falo aos meus amigos que terei cinco filhos - garotos trigemeos: Benjamin, como se chamava meu bisavo e queria minha mãe. Eduardo, pra chamar de Edu e João Lucas, como se chamava meu amigo, mas é mesmo porque o nome é mais bonito. E meninas gemeas: Clarice, como um dia alguém falou e Maria Silvia porque me lembra alguém legal.- quando digo isto a eles, me chamam de biruta, mas não podem entender o desejo que sinto de ver aquela familia grande reunida mais uma vez, com uma mãe, que um dia será eu, gritando no fogão, com toda essa criançada fazendo bagunça no quintal e um pai desligado, que um dia será meu marido, indiferente a tudo isto, ligado apenas no futebol. E chamarei meus amigos, meus pais e meus avós, para que toda aquela confusão aconteça mais uma vez e possa encher meu coração.

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