Um surto para o fim do mundo

Cinco passos para a direita para o mundo acabar
Já não é possível encontrar abrigo em parte alguma
Há uma família desestruturada, uma escola que não ensina nada
E todos dizem que Deus irá ajudar, que tudo irá mudar.
Deus é um cara saturado.
Eu tenho uma mãe solteira, um meio-irmão e um tio drogado
Uma professora que não ensina nada e cobra de mim um aprendizado
Não é só Deus que esta saturado.
Abriram os portões lá vêm os soldados
Montados em descaso e maltratados
Num campo de batalha falido e sem expectativas
Há um muro pichado com sangue
Sangue da velha esperança, sangue das velhas batalhas
E o meu avô foi revolucionário
E tudo o que dele restou são fotos embaçadas.
Disparo contra o muro, não sou mais nada.
Disparo minha metralhadora cheia de magoas
Entre escarros de desprezo, eu costumava achar que tudo mudaria
Mas nos meus cálculos de porcentagem
A pouca gente para mudar, há pouca gente para evoluir
Uma viajem para o Irã para o mundo explodir
E as baratas serão mais evoluídas que os homens
Melhores intelectualmente, sentimentalmente e espiritualmente.
Melhores, melhores, melhores que nós.
O mundo é uma ilha
Só tenho um nome e uma pistola na mão
Quando me esquecer deste nome o que me restará?
Meu amigo negro não arruma emprego
Minha amiga gorda não consegue um namorado
Meu amigo gay não pode contar o quanto já foi linchado
O preconceito está no salto alto
Mas o homossexualismo é tendência
Explique-me Senhor Deus, arquiteto de toda essa casa
O sexo é usado de maneira qualquer
E tanto faz beijar homem ou mulher
Mas ainda existem juizes lá fora prontos para julgar
Cinco passos para a direita para o mundo acabar.
Não entendo, não entendo, não posso entender...
O homem destrói tudo o que ele tenta ser
Quero uma família feliz, uma escola boa e amigos para sempre
Mas tudo lateja ruim, como uma imensa dor de dente.
Eu não reclamo em voz alta, não vale nada reclamar
Pior que isso, guardo só para mim,
Sou uma bomba contando segundos para estourar.
Cinco passos para a direita para o mundo acabar.

caroline mello